sábado, 18 de dezembro de 2010

BERILO WANDERLEY - Myriam Coeli de Araujo

        BERILO WANDERLEY

          Aqui estamos derrubados pelo seu silêncio. Não é feito o teu silêncio de paredes de ar para que a magia de nossa fraternidade o desfaça, mas de conciência eterna, tão sólida, tão fria que não alcançamos.
         Todos os seus amigos, essa comunidade de irmãos, que entranham aos mesmos ideais e na mesma perseguição de beleza e da curiosidade que as coisas escondem ou no sonho da boemia, todos disfarçamos as mãos sobre os olhos, porque bem sabes....
         Quero te dizer uma coisa linda e que te vai emocionar, meu caro BW - o amor que com Maria Emilia cultivaste está hoje como uma canção em todos os corações, pelo poder do encatamento que foi, pela dádiva da pureza e da singularidade que a lição amar trouxe. Essa reciprocidade de amor que te levava e a ela aos botecos e aos lugares mais sofisticatos em busca de vinho e de alegria ou que te escondia e a ela na fortaleza de tua casa, esse amor só adoração, fica tranquilo: será conservado tão forte e tão real, tão lindamente humano quando meteoricamente divino por tua mulher. Ela te manda dizer isto, agora que o reflete sobre os filhos que assinalam a tua presença entre nós.
          Como te lembramos nas coisas simples que construías da grandeza de tua dimensão humana! Irmão dos pássaros, que alimentavas em teu quintal e das coisas singelas que a natureza cria, tu também te chamavas Francisco, não o de Assis, que a estas alturas contigo já deu muitas glórias ao Sol, à Lua e as Estrelas, mas Berilo, daqui desta brava, linda, terna e cruel cidade. Uma cidade que tu lamentavas não haver parado no tempo das charretes para os passeios vesperais com Maria Emilia e crianças.
           Por essas coisas todas, tocadas de tanta poesia, é que ficarás em nossos corações, justo como uma rosa em um jarro. Irmão como és, permanecerá nessa querência de ternura que o tempo, agora de ti afastado, nos aproximará novamente, não em nossas casas, mas em uma das moradas de Deus, onde possas repetir o gesto do vinho, da música e do riso, onde te síntas parte, mas tão íntegro e tão íntimo como em nossa casa. Ouviremos novamente Maria Emilia cantar aquelas cançõezinhas em francês de que tanto gostavas.
 (Myriam Coeli de Araujo)

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