sábado, 22 de janeiro de 2011

ANDALUZIA: TERCEIRO POUSO



ANDALUZIA: TERCEIRO POUSO

MÁLAGA, abril - Málaga é mar. E o Mediterrâneo contornando a Costa do Sol e já a nos perseguir muito an­tes que entrássemos na cidade, nos tornou Málaga profunda­mente simpática. Os navios estão fumegando ali em cima da cidade. Navios de toda parte. De todos os tamanhos. Com gente de todo jeito. Turistas, marinheiros, descuidados via­jantes. Por isso, por causa do mar, Málaga é uma cidade agitada. Colorida. Alegre. Antes de percorrermos uma longa estra­da atá as margens do Mediterrâneo-praia, onde se ergue Torremolinos, crescendo entre turistas que ali passam suas férias de prima­vera e verão e fazendo valer o prestígio de seus pescados esquen­tando a vista do bom comedor, antes disso, fiquemos aqui mesmo, dentro da capital de Málaga, aproveitando esta tarde de sábado, sossegando o corpo displicentemente numa dessas cadeiras de cal­çada desse bar onde há tanta gente e de toda espécie. Gordos se­nhores louros, denunciando origens nórdicas, cá estão frente ao copo de cerveja, bem mais saborosa que a má cerveja de Madri, por exemplo, tão aguada. E as mulheres, tão bonitas. Até agora, as malaguenhas são as segundas mulheres da Espanha. As primei­ras são mesmo as madrilenhas. Cruzam a  nossa frente, falando muito depressa. Em volta, umas tomam sua cerveja com chanque­te. Sabem o que é chanquete? Vou comparar mal, mas não tenho outro jeito. Parece isso mesmo: minhoca. São peixinhos miúdos que parecem minhocas, e muito brancos, mas que depois de fritos, sequinhos, no prato, são uma delicia. Me apresentaram aos chan­quetes nessa primeira tarde de Málaga, tarde de sábado como fi­cou dita lá em cima. Ali ficamos a devorá-los, levando-os a boca em punhados, como quem agarra farinha seca. Mais a cerveja, a boa conversa e, a uns cem metros, o mar, colaborando para com uma eventual vida soberana. A cigana corre para nós e, em meio a um pregão ininteligível, nos estende uma porção de coisas da ter­ra para atrair turista. Um espanhol, Miguel, que esta conosco, fala para ela que nada quer, e ante a surpresa do castelhano tão fami­liar, prorrompe numa gargalhada de lindos dentes alvos, saindo para um senhor louro de sangue quase a jorrar do rosto.
(BW)

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