sábado, 22 de janeiro de 2011

Berilo Wanderley em três momentos alegres de sua vida. Parece que foi ontem - Francisco Sobreira

          
  
Berilo Wanderley em três momentos alegres de sua vida. Parece que foi ontem
        
             No ultimo dia 20 completaram-se nove anos da morte de Berilo. Nove anos e ressuscitemos o lugar-comum parece que foi ontem que, trafegando pela Hermes da Fonseca com destino ao centro, parei, à frente de um sinal. Um carro emparelhou-se ao meu e, de dentro dele, uma  voz chamou por mim. Me virei e vi o Joã Batista Machado. "Ja soube o que aconteceu com Berilo"? perguntou. Disse não e ele emendou: “Morreu de um enfarte".
            O impacto da notícia foi maior pelo inesperado da ocorrência. Ha menos de uma semana Berilo estivera no lançamento do meu livro A Noite Magica, na Livraria Universitária. Dois dias antes ele me fizera recordar, através da coluna que mantinha nesta Tribuna, os grandes filmes exibidos em Natal em 1966.    Naquele ano, Berilo, eu, Franklin Capistrano, Gilberto Stabile e Moacy Cirne escolhemos os dez melhotes filmes, cujo primeiro lugar coube a O Eclipse, de Antonioni. Ele comparava a programação cinematográfica em Natal em 1966 (em que tivemos Antonioni, em dose dupla, Godard, Kubrick, Bunuel, Fellini, Visconti e Welles) com a de 1979 (até meados de julho), com infinita desvantagem para a do último ano.
            Mas ao falar de Berilo no ano nove de sua morte, não pretendo tornar ainda mais lamentada a sua ausência na paisagem humana e no contexto cultural de Natal. Isso já foi dito tantas vezes por ocasião de sua morte. Prefiro lembra-lo em três momentos alegres em que o flagrei em sua condição de homem simples, quase diria de pessoa comum, que deve ser bem conhecida daqueles que privaram de sua intitnidade.
            1°) Tinha ido procurá-lo no Diário de Natal, que ainda funcionava na Rio Branco. Berilo se ausentara da redação fiquei esperando que ele retornasse. De repente surge ele lá de dentro cantarolando, em alto som, os primeiros versos de um antigo sucesso de Orlando Silva, que eram "se magoei teu lindo coração, perdão amor". Todos os presentes riram e não faltaram as piadas provocadas pela cena.
            2°) Num sábado a  noite estava reunido com companheiros do Cine Clube Tirol, em uma das mesas do Glacial. Em dado momento, quem vemos apontar na porta? Ninguém menos que Berilo. Com uma satisfação e um prazer inestimáveis o acolhemos na roda. Estava alegre e loquaz, em dia de peregrinação pelos bares. Não lhe faltava assunto (previsivelrnente tinha que falar de cinema, acompanhado que estava de cineclubistas). Lá pras tantas, Berilo fez a seguinte pergunta: "se cada um de vocês soubesse que só teria um ano de vida, o que desejava fazer"? Juliano Siqueira antecipou-se a todos e passou a enumerar uma série de atos terroristas que praticaria contra a ditadura militar, mas antes de concluir foi interrompido por Berilo: "amigo, desse jeito você não teria um mês de vida". A gargalhada foi geral. Quando ele quis ir embora, insistimos para que ficasse mais um pouco. E foi, nesse instante, que Berilo cometeu um ato falho que punha à mostra o dilema entre o desejo de continuar no bar e a obrigação de voltar para casa. "Eu vou à busca do bar.... ou do lar", disse com a voz pastosa.
            3º) Foi na encenação de O Pagador de Promessas, pelo grupo de Jesiel Figueiredo. Eu ocupava uma poltrona a poucos passos da frisa onde Berilo se encontrava, juntamente com João Batista Machado e respectivas esposas. Eis que entra em cena Sebastião Carvalho, no papel do padre. Parece que Machado disse algo muito engraçado sobre a presença de Sebastião (que, aliás, com sua figura rotunda metida numa batina, nada convincente na pele de um sacerdote, prestava-se mais ao riso do que à admiração); talvez fosse o efeito do vinho que Berilo provavelmente entornara antes de ir para o teatro. O certo é que lhe deu um prolongado acesso de riso, que desviou para si as atenções dos espectadores mais próximos. E logo para ele, de quem dizem que se empenhava para não ser alcançado pelos holofotes.
(Francisco Sobreira)


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