segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A ILHA



A ILHA

            De repente, a notícia salta do jornal e me cai na alma: uma ilha vai ser posta em leilão, no próximo dia 27. Fica na regiao de Parati, Rio de Janeiro, pertence ao Serviço de Patrimônio da União e, práticamente, o grande obstáculo aberto entre mim e a ilha está no preço. Os lances devem começar, inevitavelmente, de Cr$ 1 milhao 540 mil.
            Quem não se perturba com a notícia de uma ilha a venda?
Quem não quer ir viver numa ilha, longe dessa parafernália que se estabeleceu sobre as cidades modernas, uma ilha sem televisão e sem automóvel, sem conhecidos chatos e sem banco para man­dar dizer que tal dia é o pagamento da promissória? Quem?
            Dá logo vontade de pensar naquela c1ássica lista dos livros fatais que, fatalmente, se levaria para uma ilha deserta, onde o tempo sobra e as horas se estendem, frouxas, pela espaço aberto. A releitura sempre adiada do Cervantes, do Proust, do Balzac. E depois, o mar em frente e a vida soberana, como requisitava o poeta.
            Tenho um amigo um tanto maniaco que, quando se vê com um papel diante dos olhos e um lápis na mão, começa a desenhar um montinho de areia com um coqueiro de lado e um bonequinho deitado debaixo. É ele em sua ilha. Certa vez, quase ia suspenso da repartição pública onde trabalha, porque, ao receber um pro­cesso para meter um carimbo, o que fez foi desenhar a bruta de uma ilha no lugar da carimbada. Foi preciso rasgar a folha, por­que processo não rima com ilha.
            Para aquela ilha de Parati, com seus 145 mil metros quadra­dos, plantada bem diante da foz do rio Barra Grande, como diz o anúncio, quem não puder mesmo dar o lance maior, pois a Lote­ria Esportiva continua ainda sendo uma esperança fugidia na vida de cada um, que faça como eu: arme-se das mais firmes intenções, tome a certeza de que a ilha já é sua, ponha a um canto os livros, a vara de pescar, a única bermuda e única camisa que pretenda levar,deite-se e durma. Terá, então, o mais belo, diáfano e pra­zenteiro sonho de toda sua pobre vida.
 (BW)

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