domingo, 27 de fevereiro de 2011

TOLEDO


TOLEDO, março de 61 - Aqui está, erguida sobre este cer­ro a cujos pés se deita o Tejo (que em terras espanholas e chamado Tajo), a "Imperial Toledo". Aqui está o mais heróico, o mais no­bre, o mais turbulento, o mais belo do passado histórico da Espa­nha. Hoje, cruza-se suas ruas estreitas e incertas, olha-se seu povo humilde e provinciano e a custo se quer acreditar na Toledo que foi. A Toledo que é, porque foi. Mas a fama militar e politica da cidade aparece, ainda, aos nossos olhos, em cada curva de esqui­na, em cada trecho de rua; são muralhas, são castelos, são tem­plos, são evocações da arte islâmica que hoje se faz espanto de tu­rista e orgulho humilde de uma gente simples.
            Conta a lenda que descendentes de Noé a fundaram, dois mil anos antes de Cristo. Então, era tranquila tanto quanto hoje. Mas depois, vieram os visigodos, que teve um rei chamado Leovigildo que fez da cidade, a sede da Monarquia. E mais depois, Tarik, um chefe árabe, a invadiu, e durante quase três séculos esteve subme­tida ao Califado de Córdoba. As guerras se sucediam, os monumentos de arte se edificavam, e o Tejo seguia, impassível e azul, lá em baixo, doendo-se ao golpe das patas de cavalos de toda a parte. Um dia, no A1cazar, 400 cabeças rolaram. De outra vez, veio um Governador que cultivava a arte refinada de não poupar donzelas. Nos seus mercados, eram estendidas as sedas vindas de Damasco, os tapetes da India, e outras tantas mercadorias trazidas de Alexandria, Ceilão ...
Um dia, houve a Reconquista. Alfonso VI entra na cidade, restabelece-lhe o título de "Primada de las Españas", domina a mouros e cristãos sob seu olhar, sem dúvida firme e forte. Entrou na cidade pela Porta Antiga de Visagra, que ali está, e por onde também há pouco entramos nós, sem alardes, claro, e sem preten­sões a dominar mouros. Essa Porta, estilo árabe do seculo IX, um dia viu pendida de suas pedras lá do alto a cabeça de um "wali" toledano. Hoje, tão simples, Toledo, com um povo que não quer evocar a sua história sangrenta de outrora. Alguns homens se ves­tem a maneira típica de séculos atrás, e cultivando o artesanato de armas e metais, na melhor tradição mourisca, nos falam, a nós estrangeiros que chegamos, com simpatia e delicadeza, negociando seu trabalho, de que vivem. No domingo, as lojas dessas mercado­rias turisticas não fecham, mas, o dono da casa encontra sempre um intervalo no trabalho para convidar o comprador a entrar e tomar com ele um bom copo de vinho tinto de Méntrida ou o branco de Yepes e Talavera. A mulher toledana é de uma graça que o cronista não sabe contar, nem se atreve. É simples como toda pro­vinciana e uma delas achei digna de um estar à margem do Tejo, aos pés da cidade, em hora de por-do-soI como aquele que vi, às 7 horas da tarde daquele domingo.
(BW) 

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