quinta-feira, 3 de março de 2011

5 CRUZEIROS


5 CRUZEIROS

            - O senhor me dá outra nota, que essa eu não recebo não.
            - Por que é que não recebe?
            - A nota está muito velha e ninguém enxerga os números.
            - Ah, então você é cego. Porque eu vejo tudinho.
            - Olhe o senhor, até este pedaço está faltando.
            - Mas isto não empata de ler os números. Os números estão é aqui.
            O homem não queria se convencer que sua nota de cinco cru­zeiros estava mesmo sem jeito. Ao meu lado, no banco do ônibus, discutia e discutia, debruçando-se quase sobre mim, a ponto de me atrapalhar a visão e quase o fôlego. O condutor também era in­transigente e queria os dois cruzeiros da passagem.
            - Veja se tem dois cruzeiros miudos aí.
            - Não tenho, não, meu senhor. Se tivesse, não ia puxar esta nota de cinco.
            E ficaram naquela conversa. Palavra prá cá, palavra prá lá.
            Até que, não aguentando mais aquele homem teimoso debruçado para cima de mim, pedi-lhe a nota, rasguei-a em pedacinhos e disse-lhe:
           - Deixe que lhe pago a passagem.
           O que eu queria era acabar de vez com aquela zoada em ci­ma de mim. Sabem que não gosto de zoada. Se não sabem, fiquem sabendo agora, porque pode qualquer um de vocês que me lêem, um dia viajar comigo, em qualquer estrada da vida. Então não fa­ça zoada. Mas, voltando ao ônibus e seu passageiro teimoso. Quan­do tinha rasgado a nota e pago quatro cruzeiros, por mim e por ele, e já me julgava tranquilo, o tal homem bate-me no braço e diz:
           - O senhor está me devendo 3 cruzeiros.
           - 3 cruzeiros de que?
           - Ora, o senhor rasga meus 5 cruzeiros, paga 2 de minha
passagem. Cadê o troco?
           - Que troco? - perguntei já começando a querer acreditar na matemática do homem.
           - O troco dos meus 5!
           - Meu amigo, - tentei lhe explicar - eu quis lhe fazer um favor, porque aquela nota não prestava mais. O senhor é que podia me dever 2 cruzeiros. Mas, não deve nada.
           - Não deve nada o que? O senhor quer me enganar com 3 cruzeiros.
           Antes que o homem falasse alto e todo o ônibus soubesse que eu o queria "enganar com 3 cruzeiros", puxei miudos e lhe dei, convencido de que não dou mesmo nem para fazer caridade nem para matemática.
(BW)

Nenhum comentário:

Postar um comentário