quinta-feira, 3 de março de 2011

COMO UM OLEIRO

             Invado a casa de Dorian Gray e, de repente, me vejo cercado de cores, cores e cores. São cores que se alastram pelo chão, sobem pelas paredes, avançam sobre nós, como a querer devorar-nos. São telas, são tapetes, são mosaicos, são murais enormes se agigantan­do sobre uma parede e que parecem querer rasga-la e ganhar a rua, o mundo.
              E ali é o mundo desse homem que vive em febre permanente de pintar, de traçar esboços, olhos voltados unicamente para as co­res de onde arranca a beleza que sua sensibilidade e seu talento fazem cada dia mais renovada. Me espanta a capacidade de reno­vacão sobre o que fez ontem desse inquieto pintor, que me acostumei a admirar numa amizade lenta e que vem de muitos anos. Me espanta descobrir cada vez que vejo um trabalho novo de Dorian Gray uma feição diferente uma experiência nova, que o faz nunca repetido sobre si mesmo. Agora mesmo, nesta visita que faço ao seu atelier, o pintor mostra-me umas pinturas sobre madeira, fei­tas com uma técnica que não sei exprimir nem repetir aqui, e que nem parecem ser do mesmo artista, que pintou aqueles quadros em volta.
              Ninguém vê Dorian Gray dispersando tempo, na rua. Vive na sua oficina, como um operário dedicado ao trabalho sob as ordens severas de um patrão severíssimo. Esse patrão que deve ser - só se explica assim - o amor confiante que tem da obra que faz. Es­se mesmo amor que leva um oleiro a permanecer de olhos vidra­dos na jarra que brota do barro que se molda nas suas mãos, en­quanto a roda da sua engrenagem gira e gira, a esquecer-se do mundo que grita, se transforma e se desmorona à sua volta.
               E a casa de Dorian, tem essa feição antiga de casa antiga, va­randas cheias de calma, jardins adormecidos ... Onde, parece, a gente está sempre vendo que - como diz o 'poeta Dorian Gray.­"humilde alguém se assenta a um canto e fica a escutar a música das árvores e a lua que chega" .
(BW) 

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